1.22.2011

A CORRENTE DE HUASCAR E O TESOURO DE ATAHUALPA

 





Conta a História, com o aval de dezenas de registros de cronistas espanhóis e mestiços dos  primeiros  anos  da  Conquista,  que  o  Inca   Huayna  Capac,  no  apogeu  de  seu governo,   quando  o   império   havia  expandido  ao máximo  seus  domínios,  mandou fabricar   uma "waska" ( corda ou corrente,  da  qual  deriva  o  nome  Huascar )  -  de uns  200 metros  de  comprimento (1) com a grossura de um punho de homem, coberta de  placas  de  ouro  articuladas,  simulando  as   escamas  de  uma  pele de  cobra,  que cintilava  ao  sol. Nessa  época, Cusco  brilhava  com  seus  telhados  de  ouro  e com  as placas,  do   mesmo   metal,   que   revestiam   as   paredes   de  seus  edifícios.            (2)
A corrente de ouro foi mostrada em uma festa, na qual foi nomeado o primogênito, na Capital do Império, circundando toda a Praça Aucaypata, erguida pelas mãos dos nobres. Em meio a cânticos e hinos ao Sol, o futuro herdeiro do trono foi apresentado, em uma espécie de cerimônia de batismo ou "sutichay" para, futuramente, ser coroado como Huascar Inca, no momento da morte de Huayna Capac. 
Huascar Inca chegou a ocupar, no curto tempo de seu governo, o Palácio de Amaru Cancha, em Cusco (atual Universidade de Cusco, Capela de Lourdes e o Templo da Companhía de Jesus); nesse palácio, em uma sala sagrada, era guardada a corrente: a dos amarus ou serpentes. 
É possível que, com a guerra dos dois irmãos, Huascar e Atahualpa, a corrente tenha sido levada para Quito (3), ou como parte do resgate de Atahualpa ou, ainda, levada pela família do Inca ao fugir da cidade (rumo a Paititi).


Mas, onde, afinal, estaria escondida a corrente? 


Há relatos de que, ao saber-se da invasão espanhola e sua cobiça por ouro (tão desmedida era essa sede de ouro que, entre os andinos, criou-se a lenda de que os espanhóis alimentavam-se de ouro e prata em lugar de comida) (4), uma ordem foi dada para que se escondesse a corrente e que isso pode ter sido feito em uma lagoa, Canincunca (Q'oyllururmana), também chamada lagoa de Urcos. Desde então, tanto durante a época colonial quanto agora, todos a têm procurado; dezenas de empresas particulares já tentaram drenar a lagoa, sem sucesso, em busca da mítica corrente de ouro; alguns arqueólogos tentaram, pela última vez, há poucos anos. 
Como se sabe, os conquistadores não cumpriram a promessa de libertar Atahualpa, caso o resgate em ouro fosse pago, assassinando o prisioneiro soberano Inca. As noticias transitavam,  com rapidez, através do Império. Como resultado, o incessante envio de ouro e prata parou e, nesse ponto da história a lenda do tesouro de Atahualpa começa a nascer... Em Cajamarca, Pizarro e em Pachacamac, seu irmão Hernando, reuniam o cobiçado ouro mas, a maior parte das riquezas não chegou. Apesar de todo o ouro que usurparam, havia muito mais...


                                                           
                       General Rumiñahui




Um dos principais comandantes do exército de Atahualpa era Rumiñahui, que havia nascido em Quito, no ano de 1486, e que muitos historiadores asseguram ter sido meio-irmão de Atahualpa, ou seja, filho do Inca Huayna Capac. Nesse momento da história, Rumiñahui lutava contra Sebastián de Benalcázar, que fora encarregado de marchar contra ele. Sebastián havia enviado um mensageiro com uma cruz e uma oferta de paz - o cadáver fora devolvido, como resposta. Rumiñahui havia visto, em Cajamarca, um símbolo igual, nas mãos de um monge sinistro que acompanhava Pizarro. 
Rumiñahui reune, então, seus soldados e incita-os a lutar. Pode-se imaginar sua voz forte alertando-os contra esse inimigo, astucioso, que mentia e enganava por ouro, que estuprava mulheres e confiscava terras. Fortalecidos pela necessidade de combater por suas vidas e pelas vidas de suas mulheres e filhos, saem ao encontro dos usurpadores nas planícies de Tiocajas.
Apesar do lugar favorecer o inimigo - os espanhóis podiam movimentar-se, com facilidade, com seus cavalos, nessas planícies - e de ter, este mesmo inimigo, feito uma aliança com o povo Cañari, o que reforçava seu efetivo estrangeiro, os homens de Rumiñahui conseguem anular seu poder de força e, cada vez que matam um cavalo, cortam-lhe a cabeça para mostrar que, por sua vez, estes são mortais. 
Uma terrível batalha, que parava ao anoitecer, ao cair do sol, e continuava no dia seguinte, era travada e as planícies começavam a tornarem-se cheias de armadilhas para os espanhóis com seus cavalos, cobrindo-se de sangue e morte.
Ao que parece, alguém ensina a Benalcázar um caminho seguro para fugir até Riobamba. Rumiñahui decide, então, atacar a cidade. Na hora do ataque, o vulcão Tungurahua entra em erupção. Em meio ao caos, enquanto as pessoas fugiam, aterradas, sob a chuva incandescente, indefesas, os espanhóis matavam-nas, sem piedade.
Rumiñahui retira-se, então, com seus soldados, até Ambato. Dalí, segue para Quito, onde tratará de abrigar os feridos e, no caminho, esconde o tesouro de Atahualpa na região sul de Sigsig, no sopé da cordilheira oriental dos Llanganates.







A VOLTA DO FANTASMA DE RUMIÑAHUI
NOTÍCIA RECENTE!!


(Serviço Informativo Iberoamericano - outubro de 1999)
O acidente de um helicóptero, no qual viajavam quatro arqueólogos, no sul do Equador, revelou que buscavam o ouro do imperador Inca Atahualpa, que foi escondido, há vários séculos, em um local nunca revelado. 
Os cientistas pertencem a um grupo de quatorze pesquisadores da Associação dos Pesquisadores da Marinha das Índias e do Instituto de Arqueologia Náutica da Universidade do Texas e da Fundação Widam; desde novembro de 1998 realizam pesquisas sobre o famoso tesouro.
Os pesquisadores, desde essa época, vivem na área mais ao sul de Sigsig, no sopé da Cordilheira Oriental ou Llanganates, onde presume-se que o guerreiro Inca Rumiñahui tenha escondido o ouro no Reino de Quito, o que seria o pagamento de resgate de seu irmão, o imperador Atahualpa, assassinado pelos espanhóis em Cajamarca.


Os arqueólogos acreditam que, embora exista um pouco de lenda, de fato, há elementos verossímeis e uma boa possibilidade de que o ouro esteja na área de Sigsig, onde também estão estudando vestígios antropológicos e arqueológicos.
O chefe da missão, Michael Paret, disse que, após investigação no Archivo das Indias, em Sevilha, descobriu a história de Ayllón (Sigsig) e da "lagoa encantada", na qual, aparentemente, poderiam estar escondidos os objetos de ouro que iriam servir como resgate de Atahualpa.
Paret afirma que, de acordo com o estudo realizado no Museu da Índia e com base em comparações de escritos sobre o tesouro, ele existe. ''Pode ter-se criado uma lenda em torno dele, como sempre acontece com fatos históricos como esses, mas o fato ocorreu e o ouro deve estar em algum lugar. Está provado que os escritos que se referem ao resgate de Atahualpa são noventa por cento verdadeiros.''
O primeiro passo da pesquisa foi encontrar evidências de restos humanos, da época, no fundo do lago Sigsig mas, enquanto realizavam as investigações, foram surpreendidos por um grupo de mineiros que extraem ouro no lugar, de forma artesanal, que quiseram expulsá-los por pensarem tratar-se de mineiros estrangeiros. Isso obrigou-os a solicitar proteção às autoridades locais e a contratar um helicóptero, para que, concluída a primeira fase, pudessem deixar o local sem ter de passar pela área de mineração. No entanto, apenas quatro conseguiram sair porque, na segunda viagem, enquanto viajava de Sigsig para Gualaceo, o helicóptero acidentou-se, devido a uma rajada de vento que o desestabilizou, atirando-o nas águas da chamada "lagoa encantada". Os quatro arqueólogos americanos, feridos, conseguiram salvar-se.
Para alguns moradores locais, o acidente foi causado pelo espírito de Rumiñahui, que não permitirá que o segredo seja descoberto. Rafaela Curuchumpi, uma das moradoras da área, acredita que não se deva brincar com os fantasmas dos antepassados, o que pode trazer má sorte. "Por que procurar um tesouro que, seguramente, foi levado pela lagoa e é protegido pelos bravos guerreiros de Rumiñahui. Essa ambição pode ser muito negativa", disse ela.


Outro expedicionário famoso foi Ralf Blomberg , nascido na Suecia, em 11 de novembro de 1912. Foi explorador, escritor, fotógrafo e cineasta. Faleceu no Equador em 1996. Realizou 6 perigosas expedições em busca do tesouro escondido por Rumiñahui. Sua obra mais importante foi Guld att hämta ( Oro enterrado y anacondas) , Gebers, Estocolmo, 1956. Também produziu  dois documentários sobre o mesmo tema: Jakt på Inkaguld ( En busca del Oro Inca) Rolf Blomberg & Torgny Anderberg Formato: 16mm Ano: 1969.
(por Kintto Lucas, Correspondente do Serviço Informativo Iberoamericano da OEI, Quito, Equador)




(1) Alguns autores chegam a afirmar 700 pés. 


(2) talvez através do túnel que saía desde o Qoricancha (Templo do Sol), em Cusco e que levava até Quito (Equador), a existência desse túnel ainda está sendo pesquisada por arqueólogos.

(3) “Temos absoluta certeza - diz o cronista Cieza - de que nem em Jerusalém, nem em Roma, nem na Pérsia, nem em qualquer parte do mundo, por qualquer república ou rei do mundo, havia tanta riqueza de metais de ouro e prata e pedras preciosas reunida em um só lugar como nesta praça de Cuzco ". (cronista Pedro Cieza de Leon, La Cronica del Peru).

(4)  Poma de Ayala , Nueva Crónica, l6l5, pág. 369,370


 BIBLIOGRAFIA


1) Eliade, Mircea, "El mito del eterno retorno", Ed Alianza, 2000 
2) Pease, Franklin, "Los últimos Incas del Cuzco", Alianza, l99l


ver também: Rivero y Tschudi, Antigüedades peruanas p. 213). (Citado por Memorias sobre las antigüedades neogranadinas : Uricoechea Ezequiel) 


OBSERVAÇÃO: Esta foi uma de minhas primeiras pesquisas e eu, ainda, acreditava que o povo remanescente que ocupa toda a região andina fosse, de alguma forma, Inca. Não é verdade. Os Incas estão, infelizmente, extintos. Afinal, precisamos fazer uma diferença entre os Incas e os povos que eram 'incas' por agregação, vivendo com o povo inca, obedecendo suas leis e participando como se lhe pertencesse, porém, sem ser, verdadeiramente, inca. Os Incas casavam-se uns com os outros, sem misturar-se, pois isso era necessário por serem Intipchurin, Filhos do Sol. Como em todas as postagens que eu escrevo este assunto é retomado e explicado, não vou me estender aqui. Portanto, todos os povos andinos, que falam Quechua e Aymara não são Incas, embora continuem, guardando, como podem, o que restou de memória, cultura e, principalmente, segredos. Valorosos guardiães do tesouro Inca que precisa ser preservado para a volta dos Filhos do Sol, como  acredita-se que ocorrerá proximamente. Essa volta só pode ser entendida quando nós compreendemos o que significa ser Inca e acreditamos que eles sejam mesmo os Filhos do Sol e analisamos o milagre de sua presença na Terra. Assim, como um dia, do nada, eles chegaram como duas crianças divinas para iniciar uma Nação, deverão voltar para retomar sua tarefa, depois dos últimos quinhentos anos de 'inversão dos mundo'. Mas, essa é uma outra história...